domingo, 11 de janeiro de 2009

um ano novo (quase) perfeito


O primeiro dia do ano começou nublado. A previsão dizia: "sujeito a pancadas de chuva ocasionais". Eu estava na praia, num condomínio limpo e organizadíssimo: a areia com certeza era higienizada todas as noites, enquanto dormíamos. Ao amanhecer, beirando a praia, extensos e bem cuidados jardins cheiravam a grama recém-cortada, molhada pelo sereno. Até o céu parecia mais bonito, com as nuvens formando um cetro adequado ao nobre lugar. Confesso que me sentia um tanto constrangida em estar , sem pertencer àquele mundo, onde tudo é quase perfeito. Ou culpada, sei lá. Mulheres insatisfeitas, mas em parte felizes por exibirem os resultados das recentes plásticas, homens vaidosos conversando sobre as aquisições do ano que passou: os imóveis, os carros, as ações que subiram. Nas mesas fincadas na areia - embaixo dos guarda-sóis identificados pelos nomes sofisticados dos prédios - caipiroskas, energéticos, pastéis de camarão servidos quentinhos e revistas de celebridades competiam por espaço. Estranho não ver sequer um jornal em dois quilômetros de praia: alienação peculiar das férias? As crianças, graças a Deus, ainda se mantinham encantadoramente imperfeitas: pisando sem dó nos castelos de areia, chorando pelo quinto sorvete, brigando na hora de ir embora, perdendo-se dos pais. Na noite anterior, naquela mesma praia, o espetáculo dos fogos se prolongara por quase meia hora: "parece abertura de olimpíada", disse o rapaz que bebia champanhe numa taça de plástico. Mas também ouvi queixas. O comentário geral foi que "no ano passado estava bem mais bonito". É a crise.

A foto acima não é de , claro. Encontrei por acaso na web, sem autoria, datada do primeiro dia do ano. Parece ser de algum bairro de classe média ou da periferia de uma grande cidade, como São Paulo. Com todas as imperfeições possíveis. E iluminando o céu carregado, um arco-íris. Mesmo sendo um arremedo de arco-íris, não pude deixar de pensar na alegoria criada por esse milagre de cores, num início de ano de previsões pessimistas, que todos fizemos questão de esquecer pelo menos por um dia. Perfeito. Ou quase.

Ah, sim, ia me esquecendo: um ótimo ano a todos. Estou de volta.

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