domingo, 27 de maio de 2007

Samurai malandro


















minhas 7 quedas

minha primeira queda
não abriu o pára-quedas

daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda

da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda

nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda

na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo

(de Paulo Leminski, em Caprichos e Relaxos)


Curitibano, nascido em 24 de agosto de 1944, neto de colonos poloneses, Paulo Leminski tinha orgulho de sua ascendência negra, por parte da mãe. No seminário, iniciou seus estudos de latim e grego, na década de 60 começa a estudar o japonês. Faixa-preta de judô, interessado na cultura oriental, fez de Haiku, livro de R. H. Blyth, em quatro volumes sobre o haicai japonês, o seu livro de cabeceira. Em 1963, conhece Haroldo de Campos e Décio Pignatari e estréia, no ano seguinte, com cinco poemas, na revista Invenção, espécie de porta-voz dos poetas concretos de São Paulo. Leminski tinha prazer pela polêmica, traço que, aliado ao humor de seus poemas, de certo modo aproximava sua personalidade à de Oswald de Andrade. Curtiu todos os aspectos sadiamente - ou não - irresponsáveis de sua geração, abandonou o curso de Direito no segundo ano e o de Letras, no primeiro, várias vezes. Morou em comunidades e sobreviveu como professor de cursinhos pré-vestibulares em Curitiba, lecionando Redação e História.

Na década de 70, trabalhava em agências de publicidade, editava e colaborava com revistas independentes, escrevia em jornais. Seu livro Catatau chama a atenção dos tropicalistas Caetano, Gil , Tom Zé e do novo baiano Moraes Moreira. Sua casa em Curitiba, onde morava com Alice Ruiz, também poeta, passa a ser freqüentada por eles e também por Gláuber Rocha, Jorge Mautner. Surgem parcerias musicais e na década de 80, Caetano grava "Verdura", com letra de Leminski; outras canções suas também aparecem em álbuns de Moraes Moreira e do grupo A Cor do Som.
1983 é o ano em que o mercado editorial finalmente lhe abre as portas: no mesmo ano, a editora Brasiliense publica três dos seus livros - os ensaios Cruz e Souza - O Negro Branco e Bashô - A Lágrima do Peixe, além do livro de poemas Caprichos e Relaxos, que estourou, vendeu muito, esgotando seguidas edições. Ao lado do sucesso de público, a crítica mais atenta confirmou o talento do autor.
Este livro, embora não deixe de ter poemas típicos da poesia marginal da década de 70, em que predominam a paródia e o non-sense, se afasta dela, na medida em que seus poemas sugerem uma transcendência histórica, o que não acontecia com a maior parte dos autores ditos "marginais", mais preocupados em tematizar o período histórico em que viviam. Outro diferencial é o cuidado artesanal com a linguagem, o uso da rima no final dos versos, que foi sendo deixado de lado desde o modernismo e que Leminski nunca deixou de utilizar em toda a sua obra.
Caprichos e Relaxos tem também poemas de forte influência concretista, além dos haicais, forma que atravessa toda a sua obra e que foram apresentados pela primeira vez nesse livro. Poeta, tradutor, rebelde, professor, jornalista, malandro e samurai, Leminski trata a palavra como um elemento lúdico, combinatório, armando jogos de sons e imagens. Nas palavras da Profª Leyla Perrone Moisés: "Leminski ganha a aposta do poema, ora por um golpe de espada, ora por um jogo de cintura. Tão rápido que nos pega de surpresa; quando menos se espera, o poema já está ali. E então o golpe ou a ginga que o produziu parece tão simples que é quase um desaforo. "

*as informações biográficas do texto foram retiradas do prefácio "Labirinto sem Limites", de Fred Góes e Álvaro Martins, para a antologia Melhores poemas de Paulo Leminski, São Paulo: Global, 2002.

Minha relação com Leminski é de paixão e, como toda paixão, exagerada, um tanto irracional.
Mas como ficar incólume ao ler versos que nos pegam... como esses:

a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa
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vídeos no YouTube, com aula e depoimentos de Paulo Leminski:

http://www.youtube.com/watch?v=O2Jf5RCyZYg&mode=related&search=
http://www.youtube.com/watch?v=T-iCzSsOZy4&mode=related&search=

sexta-feira, 25 de maio de 2007

pra começar...














Eu só acordo depois de um café. Dois, na verdade. E só começo a trabalhar depois do terceiro. Viciada... eu? Sim, mas somente em coisas essenciais. Como um café recém-tirado.

As pessoas, na minha opinião - se é que isto interessa a alguém - podem ser de dois tipos: as que gostam de café e as que ainda não gostam de café. É inevitável, faz parte do processo evolutivo do ser humano: tomar café.

Quando isto acontece, pode-se ouvir uma pessoa dizer, em encontros com amigos que estão no mesmo estágio de evolução - logo depois de comentar sobre diferentes grãos e blends com o jovem barista pelo qual ficou discretamente interessada: "e pensar que eu não gostava de café... não é curioso?"