sexta-feira, 10 de abril de 2009

relato de uma ausência



Após muitas brigas, tentativas pacientes de reconciliação e finalmente a constatação de uma relação por demais desgastada, troquei meu provedor de internet, de Speedy pra Net. Como uma sina, o problema continua. Depois de uma lua-de-mel incrível de duas semanas, fiquei sem conexão por três dias. TRÊS DIAS! Para quem depende da rede como eu – para trabalhar, estudar, comunicar-se com parentes e amigos - é como ficar cego, surdo e mudo repentinamente, sem sequer um cão-guia ou um amigo a quem recorrer.


A Net dizia que era "um problema de ruído no code". Nem me atrevi a perguntar o que vem a ser um code ou como se faz para repará-lo. Ontem li que hackers causaram panes no sistema do Speedy. Será que a Net resolver parar, em solidariedade à concorrente? Seria um tipo de lock-out, talvez? E outra, parece que na minha região "o sinal é meio problemático". OK, eles não têm culpa, o problema é a região onde estou: quem mandou morar num bairro quase anônimo e não no Morumbi, Itaim, Jardins ou em outra região de "formadores de opinião"?


As novas tecnologias estão aí para facilitar tudo, ficamos maravilhados com o que elas nos proporcionam, é um mundo novo descoberto a cada dia. Talvez por isso, no momento em que essas tecnologias falham, o sentimento de frustração que toma conta de nós seja como a não-concretização de um encontro pelo qual esperamos com um prazer antecipado. A ausência chega a ser quase uma traição.


Traídos, contrariados, impotentes, nos recolhemos, voltamos às atividades e projetos esquecidos. Pensei em ler aquele livro que está de lado ou, quem sabe, dar um pulo pra conhecer aquela escola de yoga perto de casa. Lembrei de telefonar a um amigo com quem não converso há tempos. Tentei retomar o trabalho de Língua Francesa, mesmo sem sites de busca e dicionários on-line. Até revi um filme de que gosto muito: Lost in translation, com Bill Murray e Scarlett Johansson, e que tem tudo a ver com o sentimento de inadequação que eu estava sentindo.




Incrível, nem lembrava mais como era viver sem a web. Não foi de todo ruim, confesso. Acho até que eu estava precisando desse tempo, "desconectada".


Em tempo: a conexão voltou e, com certo remorso, lembrei que há muito não postava no blogue. Bem, aqui estou. O trabalho de Francês progrediu um pouco, li umas 50 páginas do novo livro do Chico, mas não deu tempo pra ir à aula de yoga. Fica para a próxima pane da internet.