quarta-feira, 19 de março de 2008

o amanhã


Oito e dez da noite, saída do metrô, escada rolante à frente, uma multidão. Encaro os degraus da escada central, vazia, a perder de vista - e desisto. Estivesse de tênis, ao menos.

O movimento mecânico de subida causa uma sensação de câmera lenta, o tempo quase parado, cenário a passar por mim bem devagar. Um rosto que se aproxima, em sentido contrário, repentinamente familiar. Traços delicados, fones de ouvido, cabelos compridos - presos? Um olhar, fração de segundo - e passa. Não me viro: receio de estar certa. Desejo de voltar, a escada parece acelerar, de novo a multidão, catracas - passo? Lembro dos amigos, o cinema: sempre, sempre atrasada.

Penso então nos deuses a brincar outra vez comigo, devem estar rindo pra valer. E, pela primeira vez, tento enganá-los. Oculto meu sorriso e cruzo a Paulista a passos largos, como se desse modo alcançasse mais rápido o dia de amanhã.