sábado, 30 de junho de 2007

mais uma perda

O mundo não é justo, mesmo. Agora mais essa: o site NoMínimo sai do ar.

Sou uma entre os milhões de visitantes que se habituaram a dar sempre uma passadinha lá e ler com prazer suas colunas. É inevitável não me sentir roubada mais uma vez.

Dos colunistas, alguns eu lia religiosamente: Xico Sá, Sérgio Rodrigues (A palavra é...), Tutty Vasques, Arthur Dapieve, Zuenir Ventura, Fábio Rodrigues (Tocatudo - música), Ricardo Calil (Olha só - tv/cinema).

A epígrafe na coluna de Sérgio Rodrigues, com uma frase de Tom Stoppard (Toda saída de algum lugar é uma entrada em outro.”), sugere que manterão sites individuais, o que não será a mesma coisa. A cumplicidade do coletivo virtual sempre deixa a frase mais solta, o texto mais sacana - no bom sentido. E tem aquele lance da camaradagem, que conforta nos momentos difíceis, em que as palavras custam a sair.

Espero que o projeto de um novo site nos mesmos moldes, com a mesma independência e qualidade, consiga vingar. Por via das dúvidas, só pra aproveitar um pouquinho mais os últimos momentos, fiquei hoje mais de três horas lendo o NoMínimo. E olhem que odeio despedidas.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

as melhores do dia

Não ter assistido a derrota da seleção.
A persona que canta jingles antigos ("não adianta bater, eu não deixo você entrar..."), ao lado da Estação Trianon, em troca de uma moedinha na caixinha.
O espresso e o brownie do Vanilla Café.
O papo afinado com o Luca.

E a nota do Tutty Vasques:
"Já que perdeu ação na Justiça, Daniela Cicarelli deveria transformar sua volta ao YouTube num grande acontecimento. Quem sabe um novo vídeo... Ninguém agüenta mais assistir aquele da praia."

terça-feira, 26 de junho de 2007

sim



Nem estava uma noite bonita. Fui chegando e logo conferindo: estacionamento lotado, luzes na biblioteca (viva!), corredor externo cheio de gente. Entrei no prédio da Letras e, antes de descer as escadas, respirando fundo, pensei: sim, a greve acaba hoje. Quase todos - mesmo aqueles que, como eu, apoiaram a greve - estavam lá só para isso.

A assembléia, lotada, alternou momentos sérios e outros hilários. Como a negativa imediata e lacônica - e a carinha brava! - do Thiago, quando perguntado se aceitaria uma alternativa "com limite de inscritos" à proposta que ele colocara, de se votar imediatamente após os informes, sem a sucessão interminável de falastrices. Claro que foi a proposta que ganhou. Estão todos intoxicados de discursos.

O mais legal foi o encontro, o abraço apertado, a saudade amainada ao acariciar rostos amigos, fazer um 'oi' de longe, bem escandaloso. E a cumplicidade daquele momento. Como se disséssemos, ao mesmo tempo: "sim, queremos voltar, porque sentimos falta de tudo isso e porque aqui é o nosso lugar."

E sim, estou ficando cada vez mais sentimental. Este fato me preocupa. Outro dia, cheguei às lagrimas vendo as fotos de um álbum, no orkut. E nem tinha fotos minhas!

segunda-feira, 25 de junho de 2007

charles baudelaire (1821-1867)


À UNE PASSANTE

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair... puis la nuit! -- Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?

Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!

A UMA PASSANTE

Tradução de Guilherme de Almeida

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! – Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!


Num próximo post, comentarei sobre o poema e sobre esta tradução de Guilherme de Almeida, mais antiga e considerada brilhante, melhor que a de Ivan Junqueira, da edição bilíngue de "As Flores do Mal", da Nova Fronteira.

domingo, 17 de junho de 2007

antónio

SE EU NÃO TE AMAR MAIS

Se eu não te amar mais me
Caia o mar nos ombros
Me caia
Este silêncio pelos ossos dentro
Me cegue os olhos esta sombra
Me cerre
Esta noite num escuro mais profundo
Do que a chuva de ti de mãos tão leves
A figueira do meu sangue se emudeça
De pássaros à espera dos teus passos
De outra voz por sobre a minha
Morta
E as ruas do teu corpo eu desaprenda
Como desaprendi os dedos que me tocam
E se eu não te amar mais me caia a casa
De costa no teu peito como o vento

(António Lobo Antunes, escritor e poeta português, 26 títulos publicados, traduzidos em 16 línguas)

O autor, em uma de suas entrevistas, justificando sua antiga fama de enfant terrible da literatura portuguesa, declarou em uma entrevista: "Custa-me conceber um poeta que nunca tenha feito amor. E às vezes quando leio certos prosadores portugueses, não têm esperma nenhum lá dentro, são tudo coisas que se passam dentro da cabeça. Pensam muito. E a literatura faz-se com palavras. "

Conhecia sua prosa densa e perturbadora, a alternar narradores, seus períodos intermináveis - que faz com que a leitura se torne compulsiva, como o próprio texto -, seus personagens sempre à beira de um colapso.

Leio agora a poesia de Lobo Antunes e, ao descobri-la, descubro o terno António, como uma vez ele se definiu.

dor de amar

Ontem lia um poema do Vinícius que fala sobre a dor de amar. Ele termina assim:

"Tanto tempo faz
tens um outro amor, eu sei

mas nunca terás
a dor a mais
como eu te dei
porque a dor a mais
só na paixão
com que eu te amei."


Nunca pensei que fosse me acostumar a conviver com essa dor.
Às vezes me distraio e ela me abandona. Parece que me falta algo, vou ver: é ela. Trato logo de resgatá-la, para que eu sinta meu coração bater novamente.

(30/11/05)


[relendo e-mails antigos, só pra sentir meu coração bater novamente]

quarta-feira, 13 de junho de 2007

no msn...

"bem, o que importa é q vc tem a nós e nós temos vc."

É muito bom ter amigos.
Um dia ainda vou achar que é melhor que sexo.

terça-feira, 12 de junho de 2007

impotência

O que se faz quando, ao chegar em casa, dois rapazes tiram você do carro à força e somem com o seu amigo de quatro rodas, em menos de um minuto?

Nada. Não dá pra fazer nada.

O pior de tudo, depois de passar 2 horas ao telefone bloqueando cartões, celular, falando com o seguro, o banco e o diabo a quatro... é ter de agradecer por ser isso o que aconteceu. É neste mundo que vivemos.

Lembrei de um poema do Ferreira Gullar:

No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha
[...]
A vida é pouca
a vida é louca
mas não há senão ela
E não te mataste, essa é a verdade

Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos
nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver
de fora e nos dizer: é azul.
E já o sabíamos, tanto
que não te mataste e não vais
te matar
e agüentarás até o fim.

O certo é que nesta jaula há os que têm
e os que não têm
há os que têm tanto que sozinhos poderiam
alimentar a cidade
e os que não têm nem para o almoço de hoje
[...]
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.

[Ah... o melhor que eu faço é voltar pro meu Dostoiévski!]

sábado, 2 de junho de 2007

papo na cozinha

















Dizem que a cozinha é o melhor lugar pra se conversar numa casa. Concordo, se ela for grande, ventilada, como nas casas antigas, e se o papo não atrapalhar a concentração do cozinheiro. Acontece que a maioria das construtoras ainda coloca a conversa na sala e nas cozinhas dos apartamentos atuais é difícil ter espaço pra mais de duas pessoas. Mas existe lugar melhor pra falar mal da vida alheia, do governo ou do ex que uma cozinha bagunçada, com os vapores de uma feijoada ou uma moqueca borbulhando no fogão, enquanto se corta o limão da terceira caipirinha?

Eu adoro cozinhar, mas não tenho tido muito tempo pra isso. O pessoal de casa e os amigos tem me cobrado. Uma hora, a moqueca sai.

A grande questão quando se fala de moqueca é sempre o coentro. Um tempero que é um tipo de Cauby Peixoto: ou se ama, ou se odeia, não existe meio termo. A maioria dos verdadeiros paulistanos odeia coentro - não se sabe por que. Tanto que os restaurantes da cidade que servem esse prato não costumam exagerar, alguns até servem separado, cortadinho: coloca quem quer e não se fala mais nisso.

A minha moqueca é fácil de preparar. Nem me lembro de onde veio a receita. Provavelmente, como a maioria das receitas regionais que aprendi, saiu de algum livro e foi sendo modificada, depois de várias experimentações. E não vai coentro.
Primeiro, tempero o peixe com limão e pouco sal. Tem de ser um peixe de carne firme como o badejo, robalo ou cação, senão desmancha no cozimento; camarão e carne de caranguejo também ficam ótimos e neles só vai limão.
Depois faço o molho. Tiro a pele dos tomates, jogando em água fervente, até ela começar a se desprender, corto em quadradinhos, passando as sementes pela peneira. Cebola picada vai bastante, mas não vai alho, que não combina com peixe. Refogo a cebola em azeite de dendê, na mesma proporção do azeite de oliva, bem douradinho. Coloco os tomates e pimentões, que podem ser vermelhos e amarelos, cortados em rodelas. Reservo algumas rodelas pra cozinhar um pouco no final, sem desmanchar, elas enfeitam o prato. Tempero com sal, louro. Pra quem gosta de pimenta, como eu, pode usar da vermelha, fresca, bem cortadinha, quando for temperar o peixe, ou no final da preparação do molho. Quando o molho estiver bem apurado, coloco o peixe cortado em postas e deixo cozinhar coisa de 10, 15 minutos, é rápido. Se for colocar camarão, só no finalzinho, uns 3 minutos, senão ele endurece. Por último, com a moqueca borbulhando, coloco o leite de coco. Na hora de servir, jogo cheiro-verde bem picadinho por cima.

A quantidade dos ingredientes e o tempo do cozimento dependem do tamanho da moqueca: pra umas oito pessoas, eu calculo uns 2 quilos de peixe, 2 quilos de tomates, 6 pimentões e 2 garrafinhas de leite de coco. Na dúvida, sempre faço mais, porque a medida acaba sendo o meu olho ou a minha gula. E pra acompanhar, arroz branco e farofa de dendê amarelinha, que se faz refogando cebola picadinha no dendê e azeite de oliva, jogando depois a farinha de mandioca e misturando bem, sem deixar ficar seca.

A da foto, fumegando na panela de barro feita pelas paneleiras da comunidade de Goiabeiras, ES, ao lado da indefectível caipirinha e do camarãozinho frito, é uma inesquecível moqueca que comi em Vitória, no ano passado. Na receita capixaba não vai leite de coco nem dendê, diferença que é motivo de discussões homéricas entre baianos e capixabas. Eu não discuto, gosto das duas. O coentro da foto? Deixei de lado.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

indignação













substantivo feminino
1 sentimento de cólera ou de desprezo experimentado diante de indignidade, injustiça, afronta; repulsa, revolta
2 Derivação: por extensão de sentido.
ira intensa; ódio, raiva

(fonte : Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa)

blue moon


Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own

Blue moon, you know just what I was there for

You heard me saying a prayer for

Someone I really do care for
And then suddenly appeared before me
The only one my arms could ever hold
I heard somebody whisper please adore me
But when I looked that moon had turned to gold

Blue moon, now I'm no longer alone

Without a dream in my heart
Without a love of my own

(canção de Richard Rodgers & Lorenz Hart - 1934)

Hoje vi uma lua cheia escandalosa, de um brilho mágico, ao descer a Av. Morumbi: era a "Blue Moon", a segunda lua cheia do mês, fato que só acontece, em média, de dois em dois anos: a "lua azul". Li uma vez que o nome é, na verdade, impróprio, pois nenhuma alteração na costumeira coloração da lua e nem no luar ocorre de fato. Não importa, a magia existe - ficamos diferentes sob essa luz. Talvez por constatarmos a nossa pequenez, ao olhar algo que transcende nossa vida mesquinha, cotidiana. Ou simplesmente porque damos um tempo nela para tentar entender o mistério do universo e a beleza que existe nas coisas mais primitivas e simples, como uma linda lua cheia. Igual a essa, só em 2009, e nem sei se estarei por aqui para vê-la novamente. Mas hoje... eu a vi.