domingo, 15 de fevereiro de 2009

a cidade e os livros



Ler muita prosa nos deixa um tanto cerebrais, lotados de palavras, que começam a 'sair pelo ladrão': elas escapam pela boca, olhos e ouvidos, perdendo-se, soltas nas ruas. Aí, urgente se faz a poesia, que nos faz calar e sonhar, ao inundar tudo com suas imagens, cores e sons.

Estou lendo A cidade e os livros, um livro belíssimo, de Antonio Cícero.

Poesia é artigo de primeira necessidade, é coisa seríssima e é humor, é filosofia e é deboche, é drama e é vida - como ficar sem ela?


A CIDADE E OS LIVROS

O Rio parecia inesgotável
àquele adolescente que era eu.
Sozinho entrar no ônibus Castelo,
saltar no fim da linha, andar sem medo
no centro da cidade proibida,
em meio à multidão que nem notava
que eu nem lhe pertencia - e de repente,
anônimo entre anônimos, notar
eufórico que sim, que pertencia
a ela, e ela a mim -, entrar em becos,
travessas, avenidas, galerias,
cinemas, livrarias: Leonardo
da Vinci Larga Rex Central Colombo
Marrecas Íris Meio-Dia Cosmos
Alfândega Cruzeiro Carioca
Marrocos Passos Civilização
Cavé Saara São José Rosário
Passeio Público Ouvidor Padrão
Vitória Lavradio Cinelândia:
lugares que antes eu nem conhecia
abriam-se em esquinas infinitas
de ruas doravante prolongáveis
por todas as cidades que existiam.
Eu só sentiria algo semelhante
ao perceber que os livros dos adultos
também me interessavam: que em princípio
haviam sido escritos para mim
os livros todos. Hoje é diferente,
pois todas as cidades encolheram,
são previsíveis, dão claustrofobia
e até dariam tédio, se não fossem
os livros infinitos que contêm.

3 comentários:

Anônimo disse...

lindo...


... como o és...

Anônimo disse...

meu

msn :P

sebapaulinho@hotmail.com

Carol Lins disse...

Puxa, que bacana!
Já te vi pela Letras algumas vezes mas não sabia que vc tinha um blog! Adoreeei! Tem coisas muito interessantes!
Até tenho um também mas é só de desabafo mesmo,rs.
Mas legal, visitarei algumas vezes!
Beijinhos