Talvez eu esteja resmungando alto. Não é do meu feitio mas, tal como esta cidade, acho que não estou na melhor das fases.
Quando as moscas da desesperança começam a voar ao meu redor, lembro de um amigo que, em ocasiões semelhantes, dizia recorrer aos versos do genial Walter Franco:
tudo é uma questão de manter
a mente quieta
a espinha ereta
e o coração tranqüilo
Aprendi com ele a repetir esses versos, até à exaustão, como um mantra, que tem o poder de entrar em nossa mente e em seguida n'alma aflita, até nos sentirmos zen.
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Reli agora um poema, do Paulo Henriques Britto, também genial - e fundamental. Uma reflexão sobre o próprio ato de escrever.
No fim de tudo, restam as palavras.
Na solidão do corpo, no saber-se
apenas pasto para o esquecimento.
há sempre a semente de alguma ilíada
mínima, promessa de permanência
no mármore etéreo de uma sílaba,
mesmo sendo mero sopro, captado
na frágil arquitetura do papel,
alvenaria de ar. Restará
a palavra que deixarmos no fim da
nossa história. Que julguem os outros,
que chegarão depois. Mais tarde ainda.
[do livro "Tarde", Companhia das Letras, 2007]
Um comentário:
É, como diz um dos meus mestres - "a fé não costuma falhar".
Mas pra mnão ficar só nisso de "paz, luz & harmonia", vou comentar um trecho do poema do PHB que me chamou a atenção de forma bem sutil. Trata-se do verso-e-meio a seguir :
"há sempre a semente de alguma ilíada / mínima (...) ".
É de uma beleza imensa! Mais belo ainda torna-se quando tal verso-e-meio se junto com o que vem a seguir : "(...) promessa de permanência
no mármore etéreo de uma sílaba".
Acho que é um dos poemas sobre poesia mais lindos que já li. Trata de aspectos bem pequenos, aparentemente detalhes.
Acho q estou aprendendo a gostar do PHB. Confesso que não fui mto com a cara dele no princípio, mas vc, My, e o "na velocidade terrível da queda" estão me fazendo mudar de idéia.
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