Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Ler certos poemas de Drummond me faz muito mal.
Talvez eu seja muito permeável. Os fluidos me transpassam, se instalam e demoram a se diluir.
O problema é que também estou lendo muito Le Marquis de Sade.
2 comentários:
Puxa, My, não conhecia esse poema do Drummond; lembrou-me muito uma coisa que escrevi há uns tempos, tive que garimpar para achar:
DOULEUR
não há você :
oco no peito
mas
não há nada
de coração sangrando,
de ilusão acabada
ou de
sentimento ferido
há apenas
a resignação de saber
que o que me faz companhia
é a tua ausência
Hoje não sei se ainda penso nessas coisas, acho que sim; de qualquer forma, esse é o 'barato' de escrever. Depois de uns tempos, relendo, é como se eu olhasse para um "eu" retratado muito mais fielmente do que seria caso a recordação tivesse sido gravada pela fotografia.
E isso acontece também não só com o que eu escrevo. Quando leio também acontece. Há coisas que li e surtiram um efeito; hoje, relendo, surtem outro ou nenhum, mas indubitavelmente me lembram de quem eu fui um dia. Daí vem todo aquele balanço crítico de vida e tal.
E eis a magia da literatura!
My, comece logo o Maupassant que tudo melhorará... (é claro que tudo dependederá do ponto de vista).
Também me sinto estranha quando leio Drummond... então, para não me chatear com ele, corro ao poder ultrajovem, faço gostar mais dele, daí... rs...
Bises.
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