Se eu não te amar mais me
Caia o mar nos ombros
Me caia
Este silêncio pelos ossos dentro
Me cegue os olhos esta sombra
Me cerre
Esta noite num escuro mais profundo
Do que a chuva de ti de mãos tão leves
A figueira do meu sangue se emudeça
De pássaros à espera dos teus passos
De outra voz por sobre a minha
Morta
E as ruas do teu corpo eu desaprenda
Como desaprendi os dedos que me tocam
E se eu não te amar mais me caia a casa
De costa no teu peito como o vento
(António Lobo Antunes, escritor e poeta português, 26 títulos publicados, traduzidos em 16 línguas)

Conhecia sua prosa densa e perturbadora, a alternar narradores, seus períodos intermináveis - que faz com que a leitura se torne compulsiva, como o próprio texto -, seus personagens sempre à beira de um colapso.
Leio agora a poesia de Lobo Antunes e, ao descobri-la, descubro o terno António, como uma vez ele se definiu.
2 comentários:
E nesses ultimos dias, ler esses seus ultimos dois post me fizeram lacrimejar!
[Me caia
Este silêncio pelos ossos dentro]
como passar sem sentir algo ao ler isto?
Postar um comentário