sábado, 4 de dezembro de 2010

Essa mulher



— Pensei ter ouvido um barulho. Esses porcos não vão me pegar desprevenido, como da outra vez.
Volta a sentar, agora mais perto da janela. A metralhadora sumiu, e o coronel novamente divaga sobre aquela grande cena de sua vida.
— ... se atirou em cima dela, aquele galego nojento. Estava apaixonado pelo cadáver, o alisava, bolinava seus seios. Eu acertei um murro nele, olhe — o coronel olha o próprio punho —, que o estatelou contra a parede. É a podridão total, não respeitam nem a morte. Não se importa de ficar no escuro?
— Não.
— Melhor assim. Daqui posso ver a rua. E pensar. Eu sempre penso. É melhor pensar no escuro.
Serve-se mais um uísque.
— Mas essa mulher estava nua — diz, argumenta contra um possível contraditor. — Tive que cobrir seu monte de vênus, eu a vesti com uma mortalha, e o cordão dos franciscanos.
Ri bruscamente.
— Tive de pagar a mortalha do meu próprio bolso. Mil e quatrocentos pesos. Isso prova, não? Isso prova.
Repete várias vezes "isso prova", como um brinquedo mecânico, sem explicar o que isso provaria.
— Tive de pedir ajuda para mudá-la de caixão. Chamei uns operários que estavam trabalhando na área. Imagine como ficaram. Para essa gente, ela era uma deusa, essas coisas que enfiam na cabeça deles, coitados.
— Coitados?
— É, sim, coitados. — O coronel luta contra uma esquiva cólera interior. — Eu também sou argentino.
— Eu também, coronel, eu também. Somos todos argentinos.
Rodolfo Walsh. Essa mulher e outros contos. Editora 34, 2010, p.24.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Expo Chagall: atualizando

Que ótima notícia, fiquei feliz: a exposição de Chagall, ao contrário do que se noticiava até então, vem pra São Paulo!

O site Catraca Livre publicou hoje que ela acontecerá no Museu de Arte de São Paulo, o Masp, de 23/01 a 28/02.

Muito legal, imperdível, mesmo.


Ah!, desculpem a entrada meio intempestiva. Olá a todos. Voltei.

domingo, 23 de agosto de 2009

o mundo mágico de Chagall

O bielo-russo Marc Chagall em seu ateliê, em 1967


Marc Chagall (1887 - 1985) criou seu próprio mundo colorido de mitos e magia, de estranhas criaturas, amantes e animais alados em cenários oníricos.

Num século marcado por uma arte de formalismo e abstração, a pintura de Chagall é única, só comparada em importância e extensa produção à de Pablo Picasso. Suas telas são repletas de símbolos e ligadas à memória, ao mundo dos sonhos e do subconsciente, mostrando as profundas raízes efetivas e culturais do artista.
Influenciado inicialmente pelo cubismo, o artista dialogou com o expressionismo alemão e atraiu a atenção dos surrealistas, passou por todas as vanguardas e não se prendeu a nenhuma.

Chagall (cujo nome verdadeiro era Moshe Segall) nasceu em Vitebsk, Rússia, viveu grande parte da sua vida em Paris - onde ficou amigo dos escritores Blaise Cendrars (autor de quase todos os títulos de suas pinturas) e Apollinaire - e morreu em Saint-Paul de Vence, sul da França, aos 97 anos.


No Brasil, é possível admirar quadros de Chagall nos museus MAC-USP, MASP, FAAP – Museu de Arte Brasileira, em São Paulo; Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro e no MAM, em Salvador.


Moi et le village [Eu e a aldeia],1912



L'anniversaire [Aniversário], 1915



Au desssus de Vitebsk [Sobre Vitebsk], 1915



Paris par la fenêtre [Paris através da janela], 1913



Pharmacie à Vitebsk [Farmácia em Vitebsk], 1914



Le cantique des cantiques I [Cântico dos cânticos I], 1960


Em Belo Horizonte, na Casa Fiat de Cultura, até 4/10, acontece a imperdível exposição O mundo mágico de Chagall - o sonho e a vida, com mais de 300 peças - entre óleos, guaches, aquarelas, esculturas e gravuras. Entre elas estão as três séries completas de As almas mortas - inspiradas no romance de Nikolai Gógol (1809-1852) - A bíblia e Dafne e Cloé. Além disso, figuram lado a lado 28 trabalhos de artistas brasileiros influenciados por Chagall, como Ismael Nery, Cícero Dias, Tomás Santa Rosa e o lituano Brasileiro Lasar Segall. A mostra segue depois para o Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, mas em versão reduzida.

A literatura sempre foi uma das manifestações mais prezadas por Chagall. Na exposição, o destaque fica para as 23 das 100 gravuras da série Fábulas, inspiradas nos escritos de La Fontaine (1621-1625).

É curioso notar algumas marcações a lápis em pinturas e gravuras, como a dedicatória a Mário de Andrade na gravura Casamento, concluído em 1923, da série Minha vida. Não há evidência de que ambos tenham se conhecido pessoalmente. Mesmo assim, a fama do agitador do modernismo paulista fez merecer a inscrição: "A meu amigo desconhecido, Mário de Andrade".

A exposição, parte dos eventos do Ano da França no Brasil, não vem para São Paulo (que vai receber, em contrapartida, a mostra de Rodin), o que me faz pensar seriamente em visitar BH só para não perder a oportunidade única de ver de perto obras tão raras. A última grande exposição exclusiva de Chagall no Brasil foi em 1957, na 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. A próxima, só daqui a 50 anos?




MOSTRA
O mundo mágico de Marc Chagall – o sonho e a vida
De 4/8 a 4/11 na Casa Fiat de Cultura – R. Jornalista Djalma Andrade, 1250, Belvedere, Nova Lima (MG).
De 15/11 a 6/12 no Museu Nacional de Belas Artes – Av. Rio Branco, 199, Centro, Rio de Janeiro (RJ)


segunda-feira, 29 de junho de 2009

michael não morreu

Das dezenas de vídeos a que assisti nos últimos dias - como se necessitasse de um recuo no tempo para assimilar então, no presente, a triste notícia - este, de 2001, gravado em Nova York, é o que mais reflete o que foi Michael Jackson: o artista perfeccionista na produção de cada música, o ídolo adorado por pessoas de todas as idades. Um fanatismo só comparável aos fenômenos Elvis e Beatles.




Billie Jean foi lançada em 1983, no álbum Thriller, tornando-se o maior sucesso de MJ de todos os tempos, top one em todos os países em que foi divulgada, apenas algumas semanas depois. A produção musical é de Michael e Quincy Jones, uma parceria que rendeu sucessos memoráveis. Michael compôs cada linha instrumental, acompanhou e fez sugestões na escolha e na execução de cada instrumento, gravou ele mesmo todos os vocais - sendo o principal deles gravado num único take.

Para quem, como eu, cresceu ao ritmo de suas canções, conheceu a primeira geração do videoclip tentando imitar seus passos e viu tantos artistas influenciados por ele, é o fim trágico de uma era. Mas não de sua música. Esta, acreditem, não morreu.


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E pra acabar de uma vez com a tristeza, assistam a este vídeo hilário de Steve Martin numa paródia ao clip Billie Jean. Martin passou um aperto para gravá-lo, como conta aqui.


sábado, 13 de junho de 2009

um fado triste




Uma redundância, o título: todo fado é triste, acho eu.

Mas somente alguns são tão lindos como esse: Paixões Diagonais, cantado por Mísia.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

É noite na USP



O feriado prolongado jogou um pouco de água fria no caldeirão fervente em que se transformou a Universidade de São Paulo nesta semana. Depois dos violentos acontecimentos da última terça-feira que envolveram PM e estudantes/ professores/ funcionários da USP, conflitos internos ao campus também ganharam uma providencial pausa para que partidários de correntes antagonistas fizessem uma reflexão sobre o que ocorre atualmente na maior universidade da América Latina.

A Folha de SP publica hoje alguns depoimentos, com vários lados da questão. Na intenção de abrir aqui um espaço democrático, como acredito que deve ser também o espaço da universidade, transcrevo aqui quatro desses artigos. Falam sobre a crise atual da USP: a reitora Suely Vilela;
a professora Olgária Mattos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; o professor Dalmo Dallari, da Faculdade e Direito da USP e o professor Vladimir Safatle, do Departamento de Filosofia da USP.

Pra ler e refletir.

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Reitora da USP diz que não deixará o cargo

[Talita Bedinelli]


"Eu não abandonarei a responsabilidade que me foi atribuída por aqueles que me elegeram e que continuam me apoiando." Assim a reitora da USP, Suely Vilela, 55, professora titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, respondeu à pergunta sobre se pensa em renunciar ou em abandonar o cargo máximo na hierarquia universitária, conforme exigem as entidades de professores, estudantes e funcionários.
Dois dias depois dos violentos confrontos que opuseram, de um lado, a PM e, de outro, estudantes e funcionários, em pleno campus da universidade, na zona oeste de São Paulo, e que deixaram um saldo de dez feridos, a reitora concordou em conceder entrevista à Folha. Quis que as perguntas lhe fossem enviadas por e-mail e pelo mesmo meio respondeu a elas ontem às 21h53.
Face à pergunta "Acredita que a PM cometeu excessos?", a reitora não respondeu nem sim nem não. Disse apenas: "A manifestação transcorria pacificamente até que um pequeno grupo partiu para provocações e confronto com os policiais".
Vilela apresentou seu balanço do atual movimento de estudantes, professores e funcionários. Segundo ela, "a maioria está em franco desenvolvimento de suas atividades. As aulas estão sendo ministradas regularmente, assim como as pesquisas se desenvolvem dentro da normalidade". Para a reitora, "10% dos servidores não docentes, de um universo de 15 mil funcionários, paralisaram suas funções" e "apenas três unidades tiveram suas atividades parcialmente afetadas".
Vilela justificou a presença da polícia no campus: "Tem como objetivo o cumprimento de decisão judicial de reintegração de posse".
Segundo ela, a Justiça também considerou ilegais os piquetes de greve. Ela citou a decisão da juíza que concedeu a liminar, para a qual "proibir o acesso de servidores, estudantes e do público em geral aos edifícios da universidade "é inconstitucional'".
A reitora afirmou que "sempre esteve aberta ao diálogo, tanto que nunca se furtou, em nenhuma situação, a dialogar com professores, alunos e funcionários". As negociações estão suspensas desde o último dia 25, quando a reitora disse que não conversaria mais com as entidades enquanto houvesse piquetes no campus.
A entrevista encerrou-se com a reitora prometendo não "sucumbir a pressões de pequenos grupos que sobrepõem questões de caráter estritamente políticos aos objetivos e à missão da universidade".
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Reitora não tem mais condições de continuar, diz Olgária Matos


A filósofa Olgária Matos é professora titular daquela que é considerada a faculdade vermelha da USP, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Aposentou-se em 2003, mas acompanha atentamente a vida da instituição, na qual ingressou como estudante no ano anterior à promulgação do AI-5, em plena ditadura militar.
Considera que "a reitora não tem mais condições políticas de se manter no cargo", mas teme que, de novo, "se derrube o tirano sem tocar nas razões da tirania". Abaixo, trechos da entrevista concedida ontem.
(LC)

FOLHA - O que deu errado na terça-feira?

OLGÁRIA MATOS - É inadmissível que uma manifestação pacífica de estudantes e funcionários tenha de se enfrentar com a polícia dentro do campus universitário. Os manifestantes podiam até ter objetivos criticáveis -ou não-, mas, desde a Academia de Platão até as universidades modernas, esse recinto é o único preservado da violência policial porque é definido como o local que luta contra a violência, contra a barbárie. É o local em que se produz conhecimento, especulações, ciência. O local que faz parte do repertório da humanidade para se humanizar. Então não é o lugar que comporte a ocupação policial contra uma manifestação de estudantes desarmados.

FOLHA - A reitoria alega que a PM foi usada para impedir a depredação do patrimônio público e o desrespeito ao direito de não grevistas...
MATOS
- É preciso garantir o direito de ir e vir de todos os que participam da vida da universidade, é certo. Agora, como se chegou a esse ponto? Parece-me que os canais de contato entre os estudantes e a reitoria ou entre os funcionários e a reitoria estão muito precarizados.
Os funcionários apresentaram uma pauta de reivindicações, o que é algo obviamente legítimo.
Cabe à outra parte discuti-la.
Debatê-la. Agora, quando as instituições universitárias não debatem e, em vez disso, optam por enfrentar um protesto pacífico, de pessoas desarmadas, com o emprego de força militar, é porque têm uma sensação muito grande de perseguição. Alguma coisa muito séria está acontecendo com uma universidade que se torna incapaz de debater ideias diferentes.

FOLHA - Alunos, professores e funcionários exigem a saída da reitora...
MATOS
- Do ponto de vista global da instituição, politicamente, aconteceu uma espécie de vazio de poder. Quando se usa a violência, é porque se perdeu a autoridade. A universidade não é o lugar da força ou da violência. É o lugar da autoridade...
Agora, o jogo de forças entre os vários setores da universidade é que vai definir os próximos passos. Tenho certeza de que a atitude da reitora derivou de algum aconselhamento, provavelmente de professores mais conservadores, que a pressionaram a agir dessa maneira.
Porque ela não agiria assim sem se sentir respaldada. O que tudo indica é que a reitora não tem mais condições políticas de se manter. Na medida em que ela usou a violência, pela simples recusa ao debate, ficou comprometida a sua função institucional como intelectual.
O intelectual está lá para impedir o uso das armas. Ainda assim, eu me pergunto se -de novo, e porque é mais fácil- não se estaria derrubando o tirano, em vez das causas da tirania. Você pode substituir o reitor. E depois? É por isso que existe a luta, que não é de hoje, pela democratização das instâncias que elegem o reitor.

FOLHA - A PM deve sair da USP?
MATOS
- Imediatamente. A polícia estar lá é quase uma provocação... Uma sociedade é tanto mais feliz, tanto mais democrática, quanto mais ela conseguir conviver com seus contraditores. Uma sociedade que só é capaz de conversar com o mesmo não é uma sociedade.

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Para o professor Dalmo Dallari, é um radicalismo fora de moda

[Laura Capriglione]

Professor emérito da Faculdade de Direito da USP, Dalmo de Abreu Dallari, 77, é nome sempre associado às causas de esquerda na universidade.
Em 1981, foi candidato a reitor em nome da Associação dos Docentes da USP, da Associação dos Servidores e do Diretório Central dos Estudantes. Ganhou no voto direto, perdeu quando a eleição passou pelas instâncias formais da universidade. Hoje, está divorciado das entidades que o apoiaram.
Critica a "violência" dos protestos de agora, apoia a entrada da PM no campus e a reitora.

FOLHA - O que deu errado na terça?

DALMO DALLARI - Há um conjunto de erros. Em primeiro lugar, a maneira como estão sendo postas as reivindicações. Há um excesso de temas -tem a reivindicação salarial, a questão do ensino a distância, a readmissão de um funcionário demitido. São coisas completamente diferentes e cuja decisão depende de órgãos diferentes.
É preciso reduzir essa pauta a um temário coerente. Além disso, não posso admitir a prática de violência física contra a universidade, um patrimônio público. Fiquei indignado quando vi as fotografias de funcionários e alunos arrebentando a universidade. Essas pessoas não gostam da USP.

FOLHA - Elas dizem que é a reitora que não gosta.
DALLARI
- Essas pessoas têm um radicalismo fora de moda.
Querem impor a adesão ao movimento por intermédio dos piquetes. É natural que quem reivindica procure obter adesão. Mas isso deve ser feito pelo convencimento. E não cerceando os direitos dos professores, funcionários e alunos que querem atividades normais. Não posso reivindicar o meu direito agredindo o dos outros.

FOLHA - É chamando a polícia que se resolve isso?
DALLARI
- É claro que a presença da polícia no campus não é desejável. Mas isso é muito diferente da polícia que invadiu o campus na ditadura militar. A polícia naquela época impedia o exercício do direito de expressão, de reunião, de reivindicação. Era uma polícia arbitrária e violenta por natureza. Mas agora o que aconteceu é que a PM compareceu para fazer cumprir uma determinação judicial, visando à proteção do patrimônio público. E acho que a reitora agiu corretamente quando solicitou essa proteção.

FOLHA - Mas a polícia acabou jogando bomba em estudante contra a greve. Está certo isso?
DALLARI
- A história está cheia de exemplos em que a polícia acaba se excedendo. Mas houve situações de um grupo de manifestantes cercando a polícia. É fácil de imaginar o temor dos policiais de serem agredidos, humilhados. Isso acabou precipitando ações violentas da polícia, também condenáveis.

FOLHA - As entidades alegam que a reitora fugiu do diálogo...
DALLARI
- Eu, se fosse reitor, também não compareceria a uma reunião com esse tipo de radicalismo, até com risco de agressões físicas.

FOLHA - E agora, o que fazer?
DALLARI
- É preciso definir uma pauta coerente de reivindicações. A reitora poderia designar uma comissão de membros do Conselho Universitário, com representantes de professores, estudantes e funcionários, que de maneira civilizada e coerente discutiria sem radicalismos.

FOLHA - E quanto à PM no campus?
DALLARI
- Do jeito que as coisas estão, acho que pura e simplesmente retirar a polícia é temerário. É preciso manter a polícia e abrir a negociação.

FOLHA - As três entidades exigem a demissão da reitora...
DALLARI
- Isso é um absurdo. Seria desmoralizante para a própria USP. A reitora foi legalmente escolhida. Está no exercício das suas funções. Nunca foi alvo de acusações de corrupção. É preciso respeitá-la.

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A universidade não é caso de polícia

VLADIMIR SAFATLE


AS CENAS de batalha campal que vimos nesta semana na USP ficarão na memória daqueles que dedicam sua vida a essa instituição. Vários professores, como eu, que nunca participaram de movimento sindical, que nem sequer foram alguma vez a uma assembleia, veem com estarrecimento a disseminação da crença de que conflitos trabalhistas devem ser resolvidos apelando sistematicamente à polícia.
Diz-se que a polícia era necessária para evitar piquetes e degradações. No entanto, tudo o que ela conseguiu foi acirrar os ânimos e aumentar exponencialmente os dois.
Vale a pena lembrar que, por mais que sejam práticas problemáticas que precisam certamente ser revistas, os piquetes estão longe de se configurarem como ações criminosas. A história das sociedades democráticas demonstra como eles foram, em muitos casos, peças necessárias de um processo de ampliação de direitos. Cabe a nós provar que esse tempo passou e que, devido à capacidade de diálogo, tais práticas não têm mais lugar.
No entanto, quando se tenta reduzir manifestantes que procuram melhorias em suas condições de trabalho a tresloucados patológicos que nada têm a dizer, que não têm nenhuma racionalidade em suas demandas, dificilmente alguma forma de diálogo conseguirá se impor.
Melhor seria começar explicando qual racionalidade justifica que a universidade mais importante do país, responsável por parte significativa da pesquisa nacional, tenha salários menores que os de uma universidade federal em qualquer Estado brasileiro.
Por outro lado, há algo incompreensível na crença de que a polícia possa ser chamada para mediar conflitos com alunos e funcionários públicos. Muitos acreditam que ligarão para o 190 e receberão uma espécie de "polícia inglesa" capaz de agir de maneira minimamente adequada diante de cidadãos que se manifestam.
Contudo, o que vimos até agora foi uma polícia que entrou pela primeira vez no campus armada com metralhadoras, quando a ação padrão deveria ser, nessas situações, agir desarmada. Quem tem uma metralhadora nas mãos imagina que porventura poderá usá-la. Mas contra quem? Contra nossos alunos? E quem decidirá o momento de usá-la?
Como se isso não bastasse, uma polícia bem preparada não responde a provocações de gritos e latas com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha usadas na frente da Escola de Aplicação e de uma faculdade em que, normalmente, há crianças e adolescentes. O que aconteceria se uma bala de borracha atingisse uma criança, ampliando um pouco mais o enorme contingente de balas perdidas disparadas pela polícia?
Antes de ligar para a Polícia Militar, valeria a pena levar em conta seu despreparo manifesto em intervenções em conflitos sociais, histórico catastrófico mundialmente criticado por órgãos internacionais.
Nenhum leitor terá dificuldade de se lembrar de situações de conflito social nas quais policiais que se sentiram acuados reagiram de maneira descontrolada, provocando tragédias.
Por fim, contrariamente a certa ideia que um anti-intelectualismo militante gosta de veicular nestes momentos, vários alunos alvos de balas de borracha são extremamente dedicados em seus cursos, participam sistematicamente de colóquios e programas de pesquisa, apresentam "papers" em congressos e podem ser constantemente encontrados em nossas bibliotecas.
Sendo certo que vêm de todas as faculdades de nossa universidade (e não apenas da área de humanas, como alguns querem fazer acreditar), é inaceitável tratá-los como delinquentes potenciais. Dentre os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos.
Em vez de estigmatizá-los, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam, já que, é sempre bom lembrar, antes da entrada da polícia, nem professores nem alunos estavam em greve. A greve restringia-se a funcionários.
Há um mês, em uma pequena cidade francesa, a polícia recebeu um chamado de possível furto. Em uma atuação "exemplar", ela estava em alguns minutos no local do crime. No entanto, o local era uma escola, o objeto furtado, uma bicicleta, e o possível ladrão, uma criança de dez anos. Sem pestanejar, a polícia retirou a criança da escola na frente de seus colegas, levou-a à delegacia, colheu seu depoimento e a fichou.
Possivelmente, foi contra esse modelo social baseado na incapacidade de resolver conflitos sem apelar à mais crassa brutalidade securitária que hoje nossos alunos se manifestam. Cabe a nós mostrar a eles que a história da USP é outra.


[Todos os artigos são da Folha de São Paulo, de 12/06/09]


quarta-feira, 10 de junho de 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

Feeling good - ou quase



Feeling Good, My Brightest Diamond, do álbum Dark was the night, 4ad Records.


Essa música já foi gravada por Nina Simone, John Coltrane, George Michael, Sammy Davis Jr. e dezenas de outros intérpretes.

Apesar do título, quando a escuto, bate uma inevitável melancolia.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Alone in Tokio




Alone in Tokio foi filmado em maio de 2008, pelo talentoso Philip Bloom, com música do duo francês Air.

Ao ver o filme, a primeira coisa que pensei foi que as grandes cidades e seus habitantes são muito semelhantes, mesmo estando em extremos opostos do planeta e com culturas tão diferentes.
Sem mudar nada no roteiro, poderíamos situá-lo em Madri, Nova York, Londres, São Paulo. O filme toca em pontos sensivelmente dolorosos da grande metrópole: a solidão e a perda de identidade. Apesar de melancólico, é sereno e lindo, como o som do Air.

Achei que Tokio lembra São Paulo, mas com uma diferença crucial: , as ruas são inacreditavelmente limpas.


[Você pode assistir também o vídeo em HD e full screen, clicando aqui.]

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Indignação" - o novo livro de Philip Roth

[cartoon de Ward Sutton, retirado daqui]


Está saindo do forno o novo livro de Philip Roth, Indignação, tradução de Jorio Dauster, aguardado por seus leitores em terras tupiniquins desde o ano passado, quando foi lançada a edição em inglês.

Na
Bravo! deste mês saiu este artigo do Almir de Freitas sobre o livro.

John Banville, o autor irlandês de O mar e O livro das provas, em artigo publicado na Folha de São Paulo (Caderno Mais de 28/09/08, aberto para assinantes UOL e Folha) descreveu Indignação como "o melhor romance de Philip Roth desde O Avesso da Vida (1986)". Trecho da crítica de Banville:
Desde então, publicou muitos livros excelentes - talvez livros demais: ele é quase tão prolífico quanto John Updike-, mas nenhum com um desenho tão intricado, apaixonado e fascinante quanto este.
Roth recebeu grandes elogios por lamentos à moda do rei Lear em romances como "Teatro de Sabbath" e "O Animal Agonizante", bem como, mais recentemente, por "Homem Comum" e "Fantasma Sai de Cena" [todos pela Cia. das Letras], nos quais a morte tem presença central.
Mas, em seu novo romance, retomou a graça e sutileza de trabalhos anteriores e produziu uma obra-prima tardia.


Dos livros mais recentes, gostei muito de Homem comum, que comentei aqui, em 2007, num dos primeiros posts do blogue.

João Pereira Coutinho,
em sua coluna da Folha (Ilustrada, 23/09/08, aberto para assinantes UOL e Folha) escreveu sobre Indignation:
Vocês querem saber qual a minha idéia de inferno? Leiam as "Memórias Póstumas de Brás Cubas". O inferno é uma eternidade de memória: nós, do outro lado da margem, condenados a recordar, e a recordar, e a recordar. Uma sessão de psicanálise sem fim, onde não existe catarse possível. Apenas a obrigação cínica de revisitar o que fizemos e fomos. Eis o tema do último livro de Philip Roth, que acaba de sair por estas bandas e foi lido de um fôlego só. Philip Roth leu Machado? Mistério. Mas o seu Marcus Messner, personagem principal de "Indignation", relembra Brás Cubas pelo motivo mais simples: também Marcus relata a vida que teve depois de a vida cessar -ou, pelo menos, sob a influência da morfina terminal.
Só nos resta aguardar, pra conferir. Volto com outro post, depois de lê-lo. Mas cá pra nós, acho que Roth leu, sim, o velho Machadão.


[Indignação, de Philip Roth. Tradução de Jorio Dauster. Companhia das Letras, 104 págs., preço a definir.]

sábado, 9 de maio de 2009

gadget (ainda) de luxo


A Amazon apresentou esta semana o e-reader Kindle DX, com mais atrativos que o Kindle normal, como a tela de 9,7 polegadas (24,6 cm, medida na diagonal) e rotação automática retrato/paisagem. A tela maior visa atrair também um público de leitores de jornais e de livros técnicos, que terão uma melhor visualização no novo modelo.



O DX utiliza a
tecnologia de papel eletrônico da e-Ink, que possui as mesmas propriedades de conforto de leitura visual do papel. Não há luz de fundo ou emissão de qualquer tipo e a tecnologia imita as propriedades do papel, como o contraste.


O mais novo objeto de desejo dos leitores compulsivos de todo o mundo tem apenas 9 mm de espessura, pesa pouco mais de 500 g, faz downloads em redes sem fio de qualquer título em menos de um minuto e tem capacidade para armazenar - pasmem - 3500 livros.
Outras grandes empresas de tecnologia, como a Sony e a Apple, estão de olho nesse mercado de
e-readers, que podem ser a solução para a atual crise mundial da imprensa, com a circulação de jornais caindo vertiginosamente.

O aparelho da Amazon funciona como um iPod e é a ponta de um sistema de literatura eletrônica ancorado na maior livraria virtual do planeta, que oferece 275 mil livros, 37 jornais e 28 revistas aos usuários do e-reader.

Na apresentação do Kindle DX, Jeff Bezos - o criador da Amazon - esteve acompanhado pelo publisher do jornal New York Times, Arthur Sulzberger Jr. O grupo do Times, que detém também o Boston Globe, vai fazer promoções especiais de preço reduzido do DX para os seus assinantes. O Washington Post também fará uma promoção idêntica.

Tudo indica que o e-reader, com a concorrência, terá um preço menor e que, num futuro nem tão longínquo, será 'figurinha fácil' em todos os lugares, a exemplo do que aconteceu com os notebooks.
Sabe-se que o modelo do Kindle 1 vendeu, desde o seu lançamento em 2007, 500 mil unidades. Não é pouco para um gadget de luxo.

Se você é daqueles que ainda acham que nunca lerá um livro ou um jornal numa tela portátil, é melhor sair das cavernas. Estamos no século 21, embora muitos ainda não tenham assimilado este fato.

terça-feira, 5 de maio de 2009

outono em são paulo


E tu, aranha
como cantarias
neste vento de outono?



de Matsuo Bashô, poeta japonês (1644-1694)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

o futuro e as cidades

Esta semana conheci alguns blogues geniais. Como não sei ficar quieta quando gosto de algo, resolvi partilhar meu entusiasmo. Um deles é o Paleo-Future , que mostra futuros imaginados em épocas passadas. Muito interessantes os posts e engraçadíssimos, um melhor que o outro. A gravura abaixo é de 1910 e faz parte da coleção da Bibliothèque nationale de France (BnF). Ela cria um ambiente no ano 2000, quase um século à frente.



A ilustração me fez lembrar um 'desenho' que via na tevê quando criança, Os Jetsons, em que Jane, a Sra. Jetson, fazia sua toilette em segundos, ao passar por uma máquina que a penteava e maquiava. As parafernálias tecnológicas e o modo de vida que eram pura fantasia nos episódios de Os Jetsons hoje estão presentes em nosso cotidiano: os prédios inteligentes que atendem por comando de voz, o jornal eletrônico que o patrão do George lia no escritório, as esteiras rolantes nas áreas urbanas e lojas. George trabalhava o dia inteiro, apertando um só botão; muitos hoje chegam perto disso, só usando o mouse. Astro, o cachorro mimado da família, se exercitava na esteira; atualmente isso é comum em hotéis para cachorros, por falta de espaço ou para que o pet não fique parado em dias de chuva. Só nos faltam os carros voadores e a tal machine de toilette - esta, por sinal, iria me poupar muito tempo de manhã.

E o projeto de Oscar Niemeyer para o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, não é a própria casa dos Jetsons?





Voltando aos blogues, outro muito bacana é o New York Daily Photo, que apresenta lugares sensacionais de NY, alguns já conhecidos; outros, típicos, mas escondidos no meio da infinidade de opções da grande metrópole. Foi lá que fiquei sabendo que a Vesuvio Bakery, tradicional café e loja de pães do bairro do Soho, foi fechada, infelizmente, em fevereiro deste ano. Uma pena, mesmo. Esperava conhecê-la um dia. Quem sabe algum apaixonado por pães e pela cidade de NY resolva reabri-la, mantendo a fachada verde, o toldo azul e a linda vitrine com letras douradas.



Já pensei muitas vezes em criar um blogue similar¹ sobre a cidade de São Paulo, que também reúne locais comerciais fantásticos: bares tradicionais, pequenos restaurantes, livrarias e sebos, hiperlojas onde se acha de tudo ou lojinhas escondidas onde descobrimos coisas que se tornam instantaneamente imprescindíveis. Eu só precisaria de tempo. Ou de um patrocinador. Alguém interessado?


¹ Com tantos blogues atualmente pela web, é mais provável que esse blogue sobre São Paulo já exista. Se conhecerem, linquem aí, s'il vous plaît.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

eterno fascínio

[Marlon Brando [1949]


Atualmente leio muito na internet: pesquisando e me atualizando em sites de jornais, revistas e blogues, estudando, conhecendo as novidades de música, cinema, literatura e uma infinidade de assuntos. Enfim, como quase todo mundo. Ou não? Acho que a discussão sobre leitura em papel versus leitura digital um dia será bobagem, todos lerão muito em telas, sejam elas grandes, minúsculas, portáteis ou não, mas o contato com os livros continuará sendo insubstituível.

Um dos blogues mais bonitos e interessantes que conheci recentemente foi este,
O silêncio dos livros, que tem tudo a ver com as obras publicadas em papel. Curioso que nele o texto praticamente inexiste: são as imagens que dizem tudo.

Edward Hopper - Compartment C, Car 193 [1938]


Truffaut [1978]


sexta-feira, 10 de abril de 2009

relato de uma ausência



Após muitas brigas, tentativas pacientes de reconciliação e finalmente a constatação de uma relação por demais desgastada, troquei meu provedor de internet, de Speedy pra Net. Como uma sina, o problema continua. Depois de uma lua-de-mel incrível de duas semanas, fiquei sem conexão por três dias. TRÊS DIAS! Para quem depende da rede como eu – para trabalhar, estudar, comunicar-se com parentes e amigos - é como ficar cego, surdo e mudo repentinamente, sem sequer um cão-guia ou um amigo a quem recorrer.


A Net dizia que era "um problema de ruído no code". Nem me atrevi a perguntar o que vem a ser um code ou como se faz para repará-lo. Ontem li que hackers causaram panes no sistema do Speedy. Será que a Net resolver parar, em solidariedade à concorrente? Seria um tipo de lock-out, talvez? E outra, parece que na minha região "o sinal é meio problemático". OK, eles não têm culpa, o problema é a região onde estou: quem mandou morar num bairro quase anônimo e não no Morumbi, Itaim, Jardins ou em outra região de "formadores de opinião"?


As novas tecnologias estão aí para facilitar tudo, ficamos maravilhados com o que elas nos proporcionam, é um mundo novo descoberto a cada dia. Talvez por isso, no momento em que essas tecnologias falham, o sentimento de frustração que toma conta de nós seja como a não-concretização de um encontro pelo qual esperamos com um prazer antecipado. A ausência chega a ser quase uma traição.


Traídos, contrariados, impotentes, nos recolhemos, voltamos às atividades e projetos esquecidos. Pensei em ler aquele livro que está de lado ou, quem sabe, dar um pulo pra conhecer aquela escola de yoga perto de casa. Lembrei de telefonar a um amigo com quem não converso há tempos. Tentei retomar o trabalho de Língua Francesa, mesmo sem sites de busca e dicionários on-line. Até revi um filme de que gosto muito: Lost in translation, com Bill Murray e Scarlett Johansson, e que tem tudo a ver com o sentimento de inadequação que eu estava sentindo.




Incrível, nem lembrava mais como era viver sem a web. Não foi de todo ruim, confesso. Acho até que eu estava precisando desse tempo, "desconectada".


Em tempo: a conexão voltou e, com certo remorso, lembrei que há muito não postava no blogue. Bem, aqui estou. O trabalho de Francês progrediu um pouco, li umas 50 páginas do novo livro do Chico, mas não deu tempo pra ir à aula de yoga. Fica para a próxima pane da internet.

segunda-feira, 16 de março de 2009

entre os muros



"Voltei a ter fé que há cinema sério a ser feito" - declarou Sean Penn, presidente do júri do último Festival de Cannes, ao entregar o ano passado a Palma de Ouro ao diretor Laurent Cantet e ao elenco do longa "Entre les murs", composto integralmente por atores não-profissionais. Vencedor também do prêmio Lumière de melhor filme (concedido pela imprensa internacional na França), indicado ao Oscar deste ano na categoria de melhor filme estrangeiro, sucesso estrondoso de público na França, "Entre os muros da escola" estreou esta semana nas principais capitais brasileiras e já é motivo de discussões por todos os cantos. O filme é muito bom, arrisco dizer um dos melhores dos últimos anos, daqueles obrigatórios, pelos quais não conseguimos passar incólumes.

Ele nos perturba principalmente por levantar questões que não são exclusivas da realidade francesa, por abrir perguntas para as quais não temos respostas e pelas quais nos sentimos também responsáveis, não importando se na posição de filhos, pais, estudantes ou educadores.

Mais que um microcosmo da multiplicidade racial da França relatando a inadequação dos imigrantes, os conflitos pelas diferenças étnicas e a busca de uma linguagem comum, o grande lance do filme de Cantet é mostrar como somos confrontados dentro de uma sociedade com questões como a autoridade, a tentativa e a dificuldade de viver numa democracia, a hierarquia e a disciplina, o lugar que cada um quer ocupar no grupo.



A meio caminho entre o documentário e a ficção – outra grande sacada do diretor -, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau, recém-lançado no Brasil, em que ele relata suas experiências como professor. Nos papéis principais, estão o próprio Bégaudeau, no papel do professor-protagonista e vários adolescentes, até então não-atores, selecionados num workshop, em uma escola da periferia de Paris, e que representam papéis muitas vezes próximos de seu cotidiano. Cantet disse em uma entrevista que não os escolheu, pelo contrário: de um grupo inicial de cinquenta, vinte e cinco decidiram se envolver no processo e participar do filme. Conta também que deu espaço para improvisação, mas uma “improvisação dirigida” - eles falaram exatamente o que ele queria que eles falassem. “O filme parece um documentário, mas não é.”

A atuação de Bégaudeau é brilhante, os adolescentes estão incrivelmente espontâneos. Bégaudeau e Cantet passaram um ano ouvindo seus relatos e reencenando-os em meio aos relatos do professor. Uma espécie de criação coletiva. “Fazíamos isso em uma sala de aula, naquilo que acabou se tornando um ensaio para as filmagens”, relata o diretor. “Todos têm o mesmo nome no filme e na vida real, exceto François, que na tela quis mudar o sobrenome para Marin.”

Levantando questões humanas, éticas e políticas num universo escolar que poderia ser extrapolado - contradizendo o nome do filme - para fora dos muros, “Entre os muros da escola” consegue ser, numa dialética permanente, ora sério, ora cômico, alegre e logo em seguida, perturbador. Um filme excepcional, não deixe de ver.

Veja o trailer aqui.